segunda-feira, 24 de novembro de 2014

TODA PERFEIÇÃO HUMANA SERÁ PUNIDA?

   Na antiga Grécia o Métron significa a linha invisível que separa o humano do divino. Se os homens tentavam se igualar ou superar os deuses cruzando o métron eram punidos.O humano não podia está acima do divino. Hoje, no século XXI, inúmeras pessoas tentam diariamente alcançar patamares divinos e inevitavelmente são punidas, por si mesmas,  por tal tarefa. Citamos, por exemplo, os perfeccionistas.
   A perfeição é um atributo divino enquanto a excelência, o fazer bem, pode ser condição humana.
   Ser perfeccionista é uma busca neurótica de um atributo divino, às vezes associada a baixa de auto-estima mas nem sempre. Alguns perfeccionistas não apresentam baixa de auto-estima, pelo contrário, há uma arrogância, não confiam na habilidade e capacidade dos outros, são centralizadores e não conseguem delegar .Exigem das pessoas a perfeição e as punem por isto.
   A busca neurótica pela perfeição gera um esforço constante de um ideal utópico, de criar expectativas inatingíveis que envolve esforços demasiados e inúteis, na maioria das vezes, acompanhados paradoxalmemte de uma desorganização externa e do hábito da procrastinação.Isto mesmo, muitos perfeccionistas também são procrastinadores, ou sejam, adiam e adiam seus projetos porque, na maioria das vezes, o perfeccionismo é mais negativo do que positivo no pragmatismo diário e como é tudo ou nada, gera uma paralisia e é melhor adiar.
  Ser perfeccionista é um tipo de comportamento, necessariamente não é uma patologia. Alguns perfeccionistas apresentam sintomas de TOC ( transtorno obsessivo-compulsivo) e tornam-se prisioneiros de rituais (sem conseguir abandoná-los) de limpeza, da simetria, das ordens das coisas com prejuízos e pertubações no ajustamento psicossocial. Estes precisam de tratamento médico e psicoterapêutico.
  Personalidades perfeccionista tem, muitas das vezes, núcleos de conflito e sofrimento com a morte, a mortalidade e a finitude do nosso tempo. Tudo deve ser bem feito para durar, a mudança que tira tudo do lugar, da ordem e da rotina não só pode ser pertubadora como não é bem-vinda. A morte de uma certa forma nos faz " esta bagunça".
  O mito de Sísifo é uma boa ilustração. Sísifo era um pastor de ovelhas e filho de Éolo, o deus dos ventos.Fundou a cidade de Corinto e dela tornou-se rei. Como rei acorrentou a Morte  despovoando o Hades, o mundo dos mortos. Sísifo foi além do Métron, da sua própria medida quando se meteu nos assuntos divinos. Zeus, o grande deus, vendo aquele absurdo ordenou um castigo. Sísifo deveria rolar uma enorme pedra morro acima até o topo.Porém, chegando lá, o esforço enorme o deixaria exausto que a pedra soltaria de suas mãos rolando morro abaixo. No dia seguinte o processo se daria novamente por toda a eternidade como forma de puní-lo pela seu desejo de estar  acima dos deuses e da Morte.
  Este mito fala do desejo inútil  de vencer a morte que é , para muitos, uma imperfeição sem tamanho ou a busca de tarefas para desafios fantasiosos.
. A busca da perfeição pode ser uma fuga neurótica da nosso condição humana falha e finita. Não termos o tempo suficiente pra tudo e devemos escolher o que deve ser feito e abandonado. Aprender a não insistir no que não tem solução,  não viver sob o jugo que tudo tem que ter resposta, acabar bem e correto. Acreditar, sem flexibilidade, que toda história tem que ter um começo, meio e fim, pois quantas coisas terminam sem lógica alguma e sem nunca fechar uma questão? A perfeição não é deste mundo e não é condição humana.
   O métron é a medida de cada um e ultrapassá-lo é tornar-se escravo de si mesmo. Que pedra insistimimos carregar todos os dias montanha acima, numa tarefa e  busca sem fim do que não nos levará a nada ,  tornando-nos escravos de nós mesmos?
  Dra. Rosângela Ribeiro

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