quinta-feira, 27 de novembro de 2014

MEDO DE MÉDICO LEVA A DIAGNÓSTICOS TARDIOS

   Será que algumas pessoas fogem dos médicos como o diabo foge da cruz? Ou estas pessoas fogem mesmo é da cruz da doença?
   Latrofobia é o medo anormal, irracional e incontrolável de médico e  ir ao médico. São pessoas que sofrem psiquica e emocionalmente só em saber que irão ao médico., adiam as consultas, fogem da sala de espera,  preferem ficar doentes, acreditam que o próprio corpo sozinho irá curar-se, minimizam os sintomas e sempre tem desculpas de adiar exames e idas a consultórios e hospitais até não dá mais.
   A latrofobia é comumente acompanhada da fobofobia ou nosofobia que é o medo de adoecer, o medo da doença.. Quantas pessoas associam  ir ao médico ao risco de descobrir doença que prefere nem pensar e outras doenças que preferem  não dizer nem o nome? Não são poucos aqueles que preferem continuar ignorantes quanto ao seu estado de saúde, abrindo mão da prevenção, tratamento e diagnósticos precoces que salvam vidas.
   Sentir-se doente e não procurar um médico é apenas um adiamento. Ignorar sintomas e negar doença pode gerar duas formas de ir ao médico: ir  contra a vontade porque a doença impõe ou visitar o médico legista no fim.
   Nós médicos sabemos que cuidados simples como evitar comidas gordurosas, não fumar, não abusar do álcool, não dirigir em alta velocidade e  usar do cinto de segurança, não usar drogas, controle do sobrepeso e obesidade, fazer exames preventivos e evitar sedentarismo oferecem a todos a  oportunidade de longevidade. Sabemos também que todos os dias, no mundo inteiro, vão ao óbitos pessoas que não cuidaram bem dos seus corpos e morreram de doenças tratáveis, doenças curáveis e doenças que deram sinais e sintomas que foram ignorados pelos portadores porque não deram importância ou tinham medo de descobrir algo e estariam vivos se fossem tratados a tempo.
   O que fazer diante a latrofobia? Primeiro ter um outro olhar sobre o médico: ele é o agente de promoção de saúde e não de doença. Peça inicialmente ajuda, alguém de sua confiança, para marcar consultas e ir com você ao médico. Não tenha vergonha de conversar com seu médico sobre o seu medo, ele irá ajudá-lo a sentir-se mais confortável e seguro. Procure um médico que você goste e confie para ser seu médico confidente e orientador dos seus problemas de saúde que surgirem.Procure ajuda de um psiquiatra ou psicólogo caso haja necessidade.
   Todo mundo vai morrer um dia mas muitas mortes precoces podem ser evitadas com uma visita ao médico  e uma realização de exame.
   Nem todos que tem diabetes precisam perder a visão ou sofrer amputações, nem todos que são hipertensos precisam ter um A.V.C ou ir pra hemodiálise , e nem todos que são diagnosticados com câncer vão morrer disto.

   Dra. Rosângela Ribeiro
  

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

TODA PERFEIÇÃO HUMANA SERÁ PUNIDA?

   Na antiga Grécia o Métron significa a linha invisível que separa o humano do divino. Se os homens tentavam se igualar ou superar os deuses cruzando o métron eram punidos.O humano não podia está acima do divino. Hoje, no século XXI, inúmeras pessoas tentam diariamente alcançar patamares divinos e inevitavelmente são punidas, por si mesmas,  por tal tarefa. Citamos, por exemplo, os perfeccionistas.
   A perfeição é um atributo divino enquanto a excelência, o fazer bem, pode ser condição humana.
   Ser perfeccionista é uma busca neurótica de um atributo divino, às vezes associada a baixa de auto-estima mas nem sempre. Alguns perfeccionistas não apresentam baixa de auto-estima, pelo contrário, há uma arrogância, não confiam na habilidade e capacidade dos outros, são centralizadores e não conseguem delegar .Exigem das pessoas a perfeição e as punem por isto.
   A busca neurótica pela perfeição gera um esforço constante de um ideal utópico, de criar expectativas inatingíveis que envolve esforços demasiados e inúteis, na maioria das vezes, acompanhados paradoxalmemte de uma desorganização externa e do hábito da procrastinação.Isto mesmo, muitos perfeccionistas também são procrastinadores, ou sejam, adiam e adiam seus projetos porque, na maioria das vezes, o perfeccionismo é mais negativo do que positivo no pragmatismo diário e como é tudo ou nada, gera uma paralisia e é melhor adiar.
  Ser perfeccionista é um tipo de comportamento, necessariamente não é uma patologia. Alguns perfeccionistas apresentam sintomas de TOC ( transtorno obsessivo-compulsivo) e tornam-se prisioneiros de rituais (sem conseguir abandoná-los) de limpeza, da simetria, das ordens das coisas com prejuízos e pertubações no ajustamento psicossocial. Estes precisam de tratamento médico e psicoterapêutico.
  Personalidades perfeccionista tem, muitas das vezes, núcleos de conflito e sofrimento com a morte, a mortalidade e a finitude do nosso tempo. Tudo deve ser bem feito para durar, a mudança que tira tudo do lugar, da ordem e da rotina não só pode ser pertubadora como não é bem-vinda. A morte de uma certa forma nos faz " esta bagunça".
  O mito de Sísifo é uma boa ilustração. Sísifo era um pastor de ovelhas e filho de Éolo, o deus dos ventos.Fundou a cidade de Corinto e dela tornou-se rei. Como rei acorrentou a Morte  despovoando o Hades, o mundo dos mortos. Sísifo foi além do Métron, da sua própria medida quando se meteu nos assuntos divinos. Zeus, o grande deus, vendo aquele absurdo ordenou um castigo. Sísifo deveria rolar uma enorme pedra morro acima até o topo.Porém, chegando lá, o esforço enorme o deixaria exausto que a pedra soltaria de suas mãos rolando morro abaixo. No dia seguinte o processo se daria novamente por toda a eternidade como forma de puní-lo pela seu desejo de estar  acima dos deuses e da Morte.
  Este mito fala do desejo inútil  de vencer a morte que é , para muitos, uma imperfeição sem tamanho ou a busca de tarefas para desafios fantasiosos.
. A busca da perfeição pode ser uma fuga neurótica da nosso condição humana falha e finita. Não termos o tempo suficiente pra tudo e devemos escolher o que deve ser feito e abandonado. Aprender a não insistir no que não tem solução,  não viver sob o jugo que tudo tem que ter resposta, acabar bem e correto. Acreditar, sem flexibilidade, que toda história tem que ter um começo, meio e fim, pois quantas coisas terminam sem lógica alguma e sem nunca fechar uma questão? A perfeição não é deste mundo e não é condição humana.
   O métron é a medida de cada um e ultrapassá-lo é tornar-se escravo de si mesmo. Que pedra insistimimos carregar todos os dias montanha acima, numa tarefa e  busca sem fim do que não nos levará a nada ,  tornando-nos escravos de nós mesmos?
  Dra. Rosângela Ribeiro

domingo, 23 de novembro de 2014

QUEM QUER ESTE ALUNO? QUEM QUER CONVIVER COM ESTA CRIANÇA?

      Quem não conheceu ou conhece uma criança mal-educada cujo desejo é que os pais a leve logo pra sua própria casa? Quantos professores não esperam terminar o ano e pedir a Deus que na próxima turma não tenham como aluno fulano ou beltrano por tamanha indisciplina? Não sejamos hipócritas, não há graça nenhuma em criança mal-educada pelos pais sejam elas nossos netos, sobrinhos, alunos, vizinhos ou filhos de amigos. Criança mal-educada é uma graçinha apenas para os seus pais que não valorizam normas de boa conduta.
    Mas o que é uma criança mal-educada pelos pais? A criança cujos pais não sabem onde ela está neste exato momento, com quem está e fazendo o quê. A criança  que o pai e a mãe já afirmam, com tão poucos anos de vida, não conseguirem controlar mais e só fazem o que querem. A criança que não tem hora para alimentação, higiene, dormir, brincar e estudar. A criança em que os pais não acompanham a evolução escolar, não olham os livros e cadernos, não sabem como se comportam na escola, na casa dos tios, avós e amigos. A criança que chega em casa com objetos que não são seus e os pais não procuram saber como aquilo foi parar com elas. A criança que pega coisas escondidas em supermercados ou abrem indiscriminadamente as embalagens das guloseimas. A criança que tem hábitos de mentirem para os pais, professores e figuras de autoridade. As crianças que não foram ensinadas a dizerem obrigado , a pedirem licença e por favor. As crianças que levam objetos inadequados, como faca e outras armas, para escola e playground. A criança que diz uma palavra e dois palavrões. A criança que numa festa envergonham e constrangem os adultos porque não tem noção de limites. A criança que passa tempos no bar assistindo o pai ou a mãe beberem, fumarem e não se comportarem adequadamente diante alguém cuja personalidade ainda está em formação. A mãe ou pai que namora inadequadamente na frente ou nos ouvidos das crianças. Os pais que dão exemplos diários de vulgaridade e falta de educação na frente dos filhos. A mãe que não sabe vestir-se com decoro publicamente. Pais que desrespeitam professores, educadores e instituições na frente dos filhos. A criança que ouve dos seus pais que é um peso ou um atraso nas suas vidas. A criança que é abandonada nas mãos dos avós porque os pais são jovens e querem ser como solteiros e sem filhos. A criança que passa o dia todo largada na frente da TV ou computador.A criança que só come miojo, comidas rápidas e outras porcarias porque a mãe tem preguiça de cozinhar e alimentar adequadamente seu filho. A criança cujos pais só se comunicam com ela no grito, xingamento, ofensas, batendo ou com críticas ácidas. Criança que não tem dos pais bons exemplos no cotidiano, assistindo os pais xingarem, ofenderem e desrespeitarem os avós, os mais velhos, seus subordinados, os carentes, os diferentes, os parentes, o conjuge e o ex,  os mais frágeis sociais e os prestadores de serviços.Saibam que criança aprende pelo exemplo e pela repetição do que vê e ouve.
Crianças cujas vontades são todas satisfeitas, recebem todos os presentes que pedem, os pais cedem a todos os seus desejos e ainda quando em erro, a criança sempre tem a razão.
   Todas estas crianças citadas acima não são livres nem estão sendo educadas para a liberdade. São crianças reféns da irresponsabilidade , imaturidade e negligência dos seus pais. Provavelmente serão adultos reféns das pesadas consequências geradas pela falta de educação em casa. São crianças com risco real no futuro mais imediato de terem baixos desempenhos e rendimentos, apesar dos seus talentos, porque a falta de educação gera a falta de controle dos impulsos, gera a falta de foco, gera a falta de disciplina para a conquista de tudo que não vem de imediato. A falta de educação gera dificuldadades nos relacionamentos porque há  dificuldade de controlar a raiva quando contrariado ou frustado, abandona mais facilmente os projetos porque não aprendeu a lidar com a frustação, não consegue esperar, deixa tudo pra amanhã, não respeita os outros porque o primeiro e o último desejo a ser atendido tem de ser o seu, não tem persistência, continuidade e habilidade de lidar com as diferenças. Gera a possessividade, o não saber perder,  a agressividade natural é mal canalizada e deixa de ser usada para fins construtivos sendo caldo nutriente para vandalismos, deliquência juvenil e arbitrariedades várias em casa e na rua.
      Não são poucas as crianças nas escolas com desvio de conduta oriundo da falta de educação que deve vir de casa, fruto do trabalho diário e incansável dos seus genitores.Não importa se trabalham fora ou não, não importa se receberam boa educação ou não , chamar pra si um filho, desejado ou não, acarreta deveres e obrigações a seguir não importando sua história pessoal;  algo diferente disto é assunto para consultórios, seminários acadêmicos, delegacias e tribunais. A sociedade exige e precisa da educação no seio familiar, também a escola para fazer bem seu papel. 
 Deixar que a escola cumpra este árduo papel é colocar seus filhos numa armadilha porque este não é o papel da escola. O professor em casa não é o professor do próprio filho, é pai ou mãe com funções bem específicas e distintas de um professor. Assim também o professor na escola não pode, nem deve,  ser o pai ou mãe do seu filho.
  "Mãe zelosas , pais corujas vejam como as águas de repente ficam sujas" (*).  Quantos adultos jovens hoje são cronicamente insatisfeitos, com sensação de vazio, egocêntricos, consumistas sem noção de limites, desistentes crônicos, procrastinadores, não sabem receber não, desafiam sem necessidades chefias e autoridades, perdem empregos e oportunidades , constroem  insucessos não por má escola mas por falta de educação básica em casa que molda o caráter e dá  noção de direitos e deveres emocionais e  existenciais.
    Dra. Rosângela Ribeiro  ( Psiquiatra)
      
  (*) ´Música "Tempo Rei" - Gilberto Gil
  

sábado, 22 de novembro de 2014

VIOLÊNCIA X DOENÇA MENTAL

   Todos os dias a imprensa envia a nossa mente notícias sobre várias formas de violência sem poupar-nos das imagens e detalhes das crueldades humanas. Se nos tribunais não prevalece a lei de talião, o olho por olho e dente por dente, esta ultrapassada lei parece prevalecer no cotidiano brasileiro tamanhas notícias diárias de crimes, horrores e barbáries que chegam a nós via rádio, tv, jornais e internet.
   Diante do filho matando os pais, jovens incendiando mendigos e indios, marido matando a esposa na frente dos filhos, latrocínios absurdos, jovens comentendo homicídios de escandalizar quem já viu de tudo, execuções sumárias diárias, crimes por brigas banais e várias formas de assassinatos com frieza e premeditação, aí surge a pergunta: o criminoso tem transtorno mental ou não? Para o advogado  o réu sempre precisa de psiquiatra e não de cadeia. E para o psiquiatra? Loucura e crueldade  na maioria das vezes não andam juntas. A maioria dos assassinatos e atos de violências são cometidos por pessoas psiquicamente normais.
   Muitas pessoas consideram o ato de matar, de tirar a vida do outro como algo necessário e até desejável dependendo de quem seja o morto, um exemplo são os defensores da pena de morte ou os justiçeiros. Matar com requinte de crueldade é visto pela maioria como algo desumano, como se este criminoso fosse alguém diferente de nós, alguém que desviou tanto da norma que só pode ser loucura. Grandes desvios, seja de caráter e da ética, necessariamente não é loucura. Conheço muitos psicóticos bons de alma e coração. A maldade humana existe e não é necessarimente louca.
  Para o louco, médico e tratamento. Para o criminoso maldoso, lei e prisão. Para o criminoso-louco, tratamento e prisão-internação no manicômio judiciário.
   A religião nos ensina sempre o quanto de bom podemos ser e, às vezes, não nos alerta do quanto maus e cruéis podemos ser. Esperamos que a lei nos mostre o quanto somos responsáveis e pagantes  pelos nossos atos desviantes como uma  forma de proteção do equilíbrio da saúde social. Esta lei começa em casa ditada pelos nossos pais, continua na escola e na igreja  terminando  nos tribunais. A psiquiatria é apenas para o tratamento dos doentes e não para banalizar o mal generalizando-o  na associação com a loucura.
  Avanços tecnológicos e científicos são mais rápidos que evoluções éticas e culturais.A educação,  não a ciência e tecnologia, nos faz avançar na evolução ética e cultural.  A bondade humana vem de dentro da pessoa, o mal vem de dentro da pessoa, o transtorno mental também , no entanto o bem, o mal e a doença, cada um  nasce de origens distintas, se mantém por vias distintas e buscam expressões e soluções distintas. O que não podemos é negar tais coisas e devemos oferecer tratamento para os doentes, justiça para fortalecimento dos bons e punição justa  para fortalecer a repressão da maldade humana.
  Dra. Rosângela Ribeiro
 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

NOVEMBRO AZUL: PREVENÇÃO DO CÂNCER DE PRÓSTATA / DRIBLE O PRECONCEITO

   O movimento internacional "Novembro Azul", para a conscientização e prevenção do câncer da próstata, surgiu na Austrália em 2003 e espalhou-se por todo o mundo. O mês de novembro é marcado pelo Dia Internacional do Homem no dia 19 e o dia 17 é o dia mundial de combate ao câncer de próstata.
   No Brasil o Congresso Nacional em Brasília permanece o mês de novembro iluminado de azul em referência a este movimento.
   O câncer de próstata é o câncer mais frequente no homem, ficando atrás apenas do câncer de pele. Estatísticas mostram que a cada seis homens, um é portador da doença. Infelizmente parece que os homens têm mais medo do médico do que da doença e acabam descobrindo o câncer  em estágio avançado.
   Na fase inicial do câncer, quando as chances de cura são maiores, não há qualquer sintoma. Quando os sintomas aparecem 95% dos casos a doença já pode estar na fase avançada e a cura é mais difícil. Daí a importância de regularmente procurar o médico urologista antes de qualquer sintoma para fazer a prevenção.
   A Sociedade Brasileira de Urologia fez a campanha " DRIBLE O PRECONCEITO" porque homens preconceituosos evitam procurar o médico para o exame de toque retal acreditando que basta apenas a dosagem de PSA no sangue. Uma porcentagem de homens tem câncer inicial de próstata e não é detectado pela dosagem de PSA mas é percebido no toque retal.

  A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que homens a partir de 50 anos procurem seu urologista anualmente para exame de toque retal e dosagem de PSA.  Aqueles com maior risco da doença ( história familiar, raça negra) devem procurar o urologista a partir dos 45 anos.

  Fatores de risco para câncer de próstata:
* Idade: a incidência da doença aumenta após os 50 anos.
* História Familiar: Se ocorrer em três gerações consecutivas ( avô, pai e filho)
                              Se pelo menos dois parentes de 1º grau forem diagnosticados antes dos 55 anos de idade.
                              Se três ou mais parentes de 1º grau forem diagnosticados em qualquer idade.
   Estes homens de risco familiar elevado devem procurar o urologista a partir dos 40 anos de idade.
* Raça: É maior a incidência entre os negros.
* Alimentação: As evidências apontam fatores de risco o alto consumo de carne vermelha, gordura animal e leite. Homens que comem poucas frutas, legumes e grãos. O consumo excessivo de bebidas alcóolicas e tabagismo tem relação positiva com a doença.
*Estilo de vida:  Sedentarismo, sobrepeso e obesidade elevam o risco.

   O toque retal mais o PSA anualmente promove o diagnóstico precoce e salva vidas, a cura é de 90%.
"Não importa que tipo de homem você é: seja do tipo que cuida da saúde" (PNASH - Política Nacional  de Atenção Integral à Saúde do Homem)

    Dra. Rosângela Ribeiro
Fonte: Sociedade Brasileira de Urologia

sábado, 1 de novembro de 2014

A MORTE NÃO É O FIM NEM SEQUER EXISTE

Estamos condenados a viver. Podemos não gostar da vida e podemos achar que alguns não merecem viver mas pouco importa, não temos como morrer. A pessoa de bem não morre e o canalha também não.
Se não morremos o que fazer com a vida então? No mínimo, com nossas escolhas e atitudes,  garantir-lhe boa continuidade após a entrega do corpo ao chão quando chegar a nossa hora..
Podemos escolher acreditar que a morte é o fim, pouco importa, esta crença não irá determinar sua continuidade ou não do lado de lá, apenas irá determinar como você vive aqui. Nossas crenças não modificam os fatos apenas determinam se iremos vivê-los com mais ou menos facilidades.
Quem está vivo está  aqui, quem morreu está aqui mas do lado de lá. Não há a extinção da vida como julgam os materialistas. Até o corpo físico tem seus elementos químicos-fisicos distribuídos e absorvidos pela natureza seja por decomposição ou cinzas, nada se perde ou vira nada. O corpo pertence a natureza e o espírito ao Criador.
Gostamos de criar o fantástico, o diferente, o surpreendente, o atrativo e a novidade nas novas sensações .  Imaginamos que deve ser assim quando ao vivo encontramos com o ídolo, pisamos acordados no país dos sonhos, estamos na presença de um homem santo ou diante das espectativas boas que temos. Quem mora no Caribe deseja molhar os pés nas águas da princesinha do mar ou lençóis maranhenses e vice-versa, quem mora em Londres sonha com um país tropical e vice-versa. Ao final tudo é especial e banal normatizados pela  vida cotidiana. Também por puro medo criamos o terror, a aflição, a ansiedade e a má expectativa e desesperança diante algumas novas situações. Imaginamos que morrer é terrível, que tal acontecimento ou sofrimento será avassalador ou que uma tal experiência ou perda  irá nos fazer sofrer muito senão nos exterminar. Quem já quase morreu, quem já muito sofreu ou passou por situações extremas consigo ou familiares nem sempre concordam com tal percepção, pelo contrário, hoje muitas destas pessoas são mais fortes, mais positivas, cheias de vida e  fé.
A morte não é o fim nem deve ser o acontecimento mais central da nossa vida. Os antigos gregos diziam que quem perdeu alguém tem a obrigação de reparar-se psicologicamente desta perda e seguir em frente para o bem de si , dos vivos e dos mortos.
Os gregos e romanos da antiguidade, muito anterior ao Cristo, acreditavam que as almas dos mortos deviam atravessar um rio para habitar o mundo dos mortos. Caronte, um deus idoso, era responsável pela travessia das almas dos falecidos através de um barco. Caronte era o barqueiro e somente transportava as almas dos mortos que os vivos lhes prestassem a devida homenagem. A morte para os gregos não era um momento ou um acontecimento, mas um processo de passagem para o outro lado e morrer era sobretudo ser esquecido pelos seus. Caronte, o barqueiro da morte, cobrava pela travessia, daí o costume dos povos antigos colocarem sobre os olhos dos mortos uma moeda para o barqueiro. Caronte  navegava o barco sobre o rio Letes, o rio do esquecimento, que tinha seu destino até o Hades, o mundo dos mortos. O Hades dividi-se  em dois espaços: o tártaro, destinado à punição dos maus e os Campos Elísios destinados a recompensar os  bons.
Para os antigos ter uma vida longa não era medido pela quantidade de anos mas pela qualidade destes. Alguém que fez coisas boas, foi positivamente significativo aos seus ou pessoa útil mesmo se com pouco tempo de vida viveu longamente , ter tido muitos anos de vida e nada ter feito de útil pra si e os outros a vida foi curta.
Fazer a passagem para o lado de lá tem mais a ver como vivemos aqui do que morrer em si. Teremos a partir de nossas obras e relações humanas alguém que nos dê moedas pra pagar o barqueiro? Receberemos o amor generoso e desprendido dos nossos familiares e amigos para nos encaminhar ao mundo dos mortos nos prestando a devida homenagem e  pagando o barqueiro? Ou teremos o amor-egoísta dos que aqui ficam não nos deixando viajar? Somos generosos, obedientes e compreensivos com a viagem dos nossos entes queridos deixando-os partirem? Ou somos pequenos deuses querendo criticar, escolher, decidir ou julgar quando, como e onde nossos entes queridos ou desafetos deveriam partir?
Os povos antigos diziam que se os nossos não nos prestassem a devida homenagem e  contribuissem para a viagem o barqueiro não nos  levaria e ficaríamos por cem anos vagando em volta do rio sem conseguir entrar no mundo dos mortos e só nos restaria assombrar o mundo dos vivos gerando um desequilíbrio entre os dois mundos, o dos mortos e dos vivos,  promovendo um luto longo, difícil e doloroso.
A morte não é o fim nem sequer existe como encerramento total da vida, é apenas um veículo de transporte, um frete que não modifica os objetos de natureza espiritual durante o transporte;  continuamos vivos espiritualmente e do mesmo jeito que somos. O equilíbrio entre o mundo dos vivos e dos mortos é necessário pra ficarmos bem , seguirmos bem e deixar seguir quem a hora da  viagem já chegou. Boa viagem aos meus ancestrais, parentes,  amigos  e desafetos que partiram e  uma excelente caminhada   com  paz e saúde a todos nós que estamos do lado de cá no momento.
Dra. Rosângela Ribeiro