sábado, 15 de fevereiro de 2014

DEPRESSÃO SEM TRISTEZA

       Quando pensamos em alguém com depressão logo imaginamos encontrar a pessoa triste, pessimista, isolada e calada. Para o psiquiatra, é possível ter depressão sem tristeza e aceitar ir a balada com amigos.

       A depressão tem muitas apresentações e tratamentos específicos . Nem todo deprimido é triste e lamentoso.  Um grupo de pessoas a depressão é vivida mais no corpo do que nas emoções.É a parte física que mais sofre. São aqueles que queixam-se de cansaço, peso nos braços e pernas, alteração do sono, aumento do apetite, ganho de peso, sonolência diurna. Na esfera psíquica não sentem tristeza, mas sentem irritabilidade, dificuldade de concentração, preguiça e desorganização. Vivem como se tivessem bem sem conseguir associar que seus sintomas físicos e emocionais tem relação com uma depressão e um desgaste mental/emocional.

     As pessoas com depressão sem tristeza são capazes de se alegrarem com um acontecimento feliz e esperado.  São capazes, com a insistência de um amigo ou familiar, de irem ao cinema, praia ou uma festa e sentirem-se bem durante o evento, no entanto, cessado o compromisso e seu  retorno a casa os sintomas da depressão retornam. Os familiares e amigos do portador da depressão sem tristeza não entendem e o acusam de  "preguiçoso",  "bagunçeiro", "porco" ( não toma banho diariamente, demora a lavar as próprias roupas e objetos pessoais, mistura o que está limpo com o sujo) , "falta de vontade" , "falta de vergonha", "vagabundo". Atribui também ao deprimido um possível defeito de caráter ou personalidade, sem saber que a pessoa está doente necessitando de tratamento especializado.

    Se a depressão com tristeza , angústia e melancolia é pouco compreendida pelos familiares; a depressão sem tristeza torna-se causa de muitos conflitos familiares e acusações. Para a família é descuido, relaxamento e se tem forças para fazer algumas coisas e se alegra nas baladas, "não está deprimida nada, é falta de vergonha e responsabilidade".

   Infelizmente, este tipo de depressão apresenta um diagnóstico tardio porque até o próprio deprimido não se enxerga como deprimido. Confunde seus sintomas com um desgaste do trabalho ou preocupação. São pessoas muito tolerantes com seus sintomas de cansaço, irritabilidade, comer demais, ganhar peso e alteração do sono. Acha que é a "corrreria da vida moderna".Comem muito chocolate, bebem  muita coca-cola, são muito sensíveis a rejeição e críticas. Apresentam enormes dificuldades de conscientizarem-se de suas próprias emoções - são mais mentais do que emocionais.  Acostumaram-se a viver sem alegria, sem a esperança, com a revolta, com o ressentimento e com baixa de auto-estima.

   O perigo é o diagnóstico tardio, a obesidade, o aumento do risco do surgimento de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e outras patologias.
   Cuide-se!

         Dra. Rosângela Ribeiro ( psiquiatra)


   
   

sábado, 8 de fevereiro de 2014

CIRURGIA BARIÁTRICA : CUIDADOS PARA O RESTO DA VIDA

   O tratamento cirúrgico da obesidade não se resume ao ato cirúrgico.
   O obeso precisa saber que após a cirurgia, ele tem de fazer reeducação alimentar pelo resto de sua vida para manter o peso.
   Após a cirurgia o obeso terá custos permanentes com suplementações vitamínicas, uma vez que deixa de ocorrer absorção de nutrientes no duodeno e intestino delgado.
   Paciente obesa que pensa em cirurgia bariátrica e quer engravidar, orientar para engravidar 02 anos após a cirurgia bariátrica.A gravidez após a cirurgia é mais segura do que a gravidez na mulher com obesidade mórbida.
   O homem reduz de peso mais facilmente que a mulher.
    Deve-se educar a mastigação -  paciente ansioso come rápido demais
    Síndrome de Dumping ocorre após a ingestão de alimentos ricos em açúcares. A passagem destes alimentos pelo novo estômago (cujo esvaziamento é muito mais rápido), diretamente para o intestino, pode provocar cólicas e desconforto abdominal. Ao mesmo tempo provoca uma rápida descarga de insulina pelo pâncreas podendo provocar sintomas de hipoglicemia severa como: sudorese, palidez, tremores, delírio, visão embaçada, tontura, taquicardia, respiração difícil.
    Uma forma prática de avaliar se o alimento pode provocar a síndrome de dumping é observando a densidade calórica, ou seja, quantas calorias por grama o alimento apresenta.Quanto maior a densidade calórica, maior a chance de provocar Dumping. A densidade calórica normal dos alimentos deve ser próximo ou igual a 1Kcal/grama, a exemplo das frutas. A densidade calórica de um chocolate é de aproximadamente 4Kcal/grama, muito elevada. Portanto, a chance de desenvolver dumping com uma fruta é remota, com chocolate é alta.
    Bebidas alcoólicas e cirurgia bariátrica: Recomenda-se não consumir bebida alcóólica. Muito cuidado para não substituir o comer em excesso pelo beber demasiadamente. O álcool é muito calórico, enquanto um grama de carboidrato tem 4Kcal, um grama de álcool tem 7Kcal. O álcool dá ganho de peso.A bebida alcoólica potencializa a descalcificação óssea aumentando a chance de osteopenia, osteoporose e perdas dentárias.
     Após a cirurgia bariátrica a embriaguez ocorre mais rápido e com menor quantidade de álcool ingerido.O risco de complicações ao álcool é bem maior.
    Queda de cabelo e cirurgia bariátrica: Geralmente quando ocorre, começa no final do 2º mês pós-operatório . A duração da queda de cabelo é de, em média, 3 a 4 meses.É uma perda auto-limitada,ou seja, terá um fim mesmo que não seja instituído tratamento. Além da queda e redução do volume, é muito comum os cabelos se tornarem opacos, ressecados e quebradiços. É preciso reavaliar a necessidade de suplementos vitamínicos. É importante lembrar que polivitamínicos não engordam.
    Reganho de peso e cirurgia bariátrica: A obesidade é uma doença crônica, ou seja, não tem cura. Os resultados imediatos da cirurgia bariátrica são satisfatórios, com redução significativa do peso corporal.Porém, em longo prazo, os pacientes tendem a apresentar ganho de peso, podendo este ser relação com  a compulsão alimentar.Portanto, uma vez obeso, a vigilância e o tratamento devem ser mantidos para o resto da vida, mesmo para os pacientes operados. Qase metade dos pacientes  operados podem apresentar reganho de peso. Hábito de beliscar, consumo de bebida alcoólica. refrigerantes e alimentos gordurosos e calóricos, além da baixa ingestão de frutas e verduras, assim como muto tempo, mais de 3 horas, entre uma refeição e outra. Deve-se praticar exercício, sob orientação médica, diariamente.Evitar refrigerantes e bebidas alcoólicas, mesmo socialmente.
    Fertilidade e gravidez pós cirurgia bariátrica: Apesar da maioria das portadoras de obesidade mórbida menstruar normalmente, não pode se afirmar que mulheres que apresentam algumar irregularidade menstrual geralmente passam a ter ciclos regulares  e a perda de peso traz a melhoria de patologias associoadas como, por exemplo, ovários policísticos.Tudo isso faz com que a fertilidade aumente significativamente.Deve-se evitar engravidar nos 2 primeiros anos pós cirurgia.
    Paciente operado não tem alta médica: No primeiro ano pós cirurgia o acompanhamento deve ser frequente,incialmente com consultas mensais depois a cada 2 ou 3 meses, conforme recomentação da equipe. No segundo ano as consultas devem ser semestrais.. Depois de 2 anos procurar ajuda médica pelo menos uma vez  ao ano para haver reavalição e /ou tratamento das possíveis complicações.Lembre-se que o paciente deve ser acompanhado para o resto da vida.O não retorno às consultas no pós-operatório é um importatnte fator de risco para o reganho de peso e, portanto, parao insucesso da cirurgia.
    Exames após cirurgia bariátrica: Realizar densitometria óssea 1 vez por ano. Realiza exame de sangue periódico ( hemograma completo e bioquímica ).
    Sintomas da anemia: cansaço, dor nas pernas e falta de disposição.
    Deficiência de vitamina B12: anemia megaloblástica, língua queimando, fraqueza, formigamentos, falta de concentração, falta de memória.
    Queda de cabelo: deficiência de proteína, redução de zinco e deficiência dos ácidos graxos essenciais.
    Deficiência de zinco: pele com coloração amarela,  acne, demora da cicatrização de feridas, unhas fracas, quebradiças e com manchas, sensação prejudicada de cheiro e sabor.
    Vômitos recorrentes: deficiência de Tiamina
    Retenção hídrica / Pressão arterial elevada:  verificar o consumo de sal
    Deficiência de cálcio: diarréias frequentes, cãibras, palpitações cardícas semelhantes ao Dumping, elevação da pressão arterial, queda de dentes, dores nas costas e pernas e desordens nervosas.
    Comportamento após cirurgia bariátrica:  Pode ocorrer compulsão por compra porque emagreceu.
Pode agravar problemas conjugais que já existiam porque o paciente acha que depois de emagrecer muitos dos seus proplemas serão resolvidos, mas nem sempre é o que ocorre.
     Redução gástrica não modifica a personalidade e algumas pessoas mantém hábitos não desejáveis como mastigar rápido, comer muito chocolate, ingesta de refrigerantes , comer mesmo sem fome. Pular refeições e não prestar atenção no que e quanto come.
     Presença de depressão após a cirurgia.

     Fonte: Núcleo de Tratamento e Cirurgia da Obesidade - Procedimentos para Cirurgia Bariátrica
                Protocolo: Cirurgia Bariátrica - UFMG
               
   
   
   
   
    

  

sábado, 1 de fevereiro de 2014

MINHA FANTASIA DE CARNAVAL : PROFESSORA!

 Fui ao SAARA no RJ comprar minha fantasia de carnaval pra este ano. Na loja a prestimosa vendedora perguntou se podia ajudar. Solicitei uma fantasia de professora . Sem titubear ela informou ter vários modelos e se queria profª do estado, município ou rede privada. Surpresa com tamanha facilidade e opções, pedi as tres redes de ensino porque seria uma para cada dia de folia. Logo depois a vendedora comparece com uma fantasia de palhaço bem colorida , nariz vermelho , cabeleiras de várias cores e outros acessórios. Explicou que os acessórios que seriam pendurados na frente e nas costas da roupa é o que determinavam a rede de ensino do professor.. Achei interessante e perguntei os preços com as específicas  identificações. Respondeu-me a prestimosa vendedora:
  - A fantasia de "fessora" do estado é a mais cara porque a palhaçada toda é maior ; a fantasia de  professora do município o preço é intermediário  porque bastava carregar pindurada na frente  da fantasia a placa "  IDEB EU APOIO"  e atrás a placa " SIRVO E OBEDEÇO "  e a fantasia de "tia" da rede privada um pouco mais cara em relação a anterior porque  o material das placa é mais sofisticado , a da frente "CLIENTE TEM RAZÃO"  e atrás a placa  "EM QUE POSSO AJUDAR?".
  A prestimosa vendedora ainda mostrou vários pequenos acessórios que deixariam a fantasia mais criativa e personalizada. Comprei caixas de remédio imitando rivotril e fluoxetina, imitação de atestado médico escrito BURNOUT, botons escrito "NÃO SOU PROFª DE PORTUGUÊS OU MATEMÁTICA MAS SOU FELIZ" , "PAIS E ECA UNIDOS JAMAIS SERÃO VENCIDOS!" , "SE DEUS É POR NÓS..." . Enfim, tinha tantos penduricalhos que cada fantasia seria única.
  Ainda surpresa com a facilidade das compras, pensei que iria andar muito sob o calor do RJ mais intenso do que o do Saara , perguntei a prestimosa vendendora por que havia tantas fantasias para professor, há muita procura? Respondeu-me:
 - Como fantasia sim. Trabalho vários anos em loja de fantasias e percebo que a fantasia forte no mercado tem duas qualidades, excluindo as clássicas e tradicionais : ou é motivo de chacota na época como os políticos ou está morrendo como realidade e virando figura  mítica , o caso do professor. Estas vendem à beça!
   Em silêncio fui ao provador e diante do espelho virei de um lado a outro olhando-me fantasiada com muita atenção. De repente, o que seria motivo de alegria: a fantasia, o carnaval e a folia, tudo ali  transformou-se numa tristeza profunda. Lembrei da minha realidade como psiquiatra, as caixas verdadeiras de rivotril e fluoxetina prescritas nos cérebros dos mestres ,o crescente diagnóstico de esgotamento profissional (  Síndrome de Burnout) nos professores, sua perda de autoridade e identidade profissional, seu choro sofrido nas consultas, seu medo de perder o controle, não mais da regência de turma, a regência  já vem perdida  da sala, quarto e cozinha da moradia  do aluno, mas o medo da perda de controle do seu próprio self;  alvo do ódio e abandono de crianças e jovens com suas famílias míticas e políticas educacionais de chacotas. Devolvi a fantasia, pra quê carnaval?
 
    Dra. Rosângela Ribeiro