sexta-feira, 18 de outubro de 2013

DIA DO MÉDICO / CARTA DA DRA. JULIANA

 No dia de hoje,18 de outubro, dia do médico, transcrevo abaixo o depoimento da médica carioca Dra.Juliana Mynssen para a presidente Dilma, sobre a difícil realidade dos médicos no Brasil. Por favor, leiam com atenção:
  "Há alguns meses eu fiz um plantão em que chorei.Não contei a ninguém; não é nada fácil compartilhar isso numa mídia social.Eu, cirurgiã-geral, "do trauma",médica "chatinha", preceptora "bruxa",que carrego no carro o manual da equipe militar cirúrgica americana e que atendia no Afeganistão,chorei.

  "Na frente da sala da sutura tinha um paciente idoso internado. Numa cadeira. Com o soro pendurado na parede num prego similar àqueles em que prendemos plantas (leia-se samambaias). A seu lado, o filho. Bem vestido. Com fala pausada, calmo e educado. Como eu. Como você. Como nós. Perguntava pela possibilidade de internação do pai numa maca, pelo menos, já que estava há mais de um dia na cadeira. Ia desmaiar. Esperou, esperou, e toda vez que eu abria a portinha da sutura ele estava lá. Esperando. Como eu. Como você. Como nós. Teve um momento que ele desmoronou. Se ajoelhou no chão, começou a chorar, olhou pra mim e disse "não é pra mim, é para o meu pai, uma maca". Como eu faria. Como você. Como nós.

  "Pensei... meudeusdocéu, com todos que passam aqui, justo eu... nãoooo... porque se chorar eu choro, se falar do seu pai eu choro, se me der um desafio vou brigar com cinco até tirá-lo daqui."

  "E saí, chorei, voltei, briguei e o coloquei numa maca retirada da ala feminina.

  "Já levei meu pai para fazer exame no meu Hospital Universitário (HU). O endoscopista, quando soube que era meu pai, disse  "por que não me falou, levava no privado, Juliana!" Não precisamos, acredito nas pessoas que trabalham comigo. Que me ensinaram e a ainda ensinam.Confio. Meu irmão precisou e o levei lá. Todos so nossos médicos são de hospitais públicos que conhecemos e, se o usamos mais, é porque as instituições públicas carecem. Carecem e  padecem de leitos, aparelhos, materiais e medicamentos.

  "Uma vez fiz um risco cirúrgico e colhi sangue no meu HU. No consultório de um professor ele me pergunta: "e você confia?" "Se  confio  para os meus pacientes tenho que confiar para mim."

  "Eu pratico a medicina.Ela pisa em mim alguns dias, me machuca, tira o sono, dá rugas, lágrimas, mas eu ainda acredito na medicina. Me faz melhor. Aprendo, cresço, me torno humana. Se tenho dívidas, pago-as assim. Faço porque acredito.

  "Nesses últimos dias de protestos nas ruas e nas mídias brigamos por um país melhor. Menos corrupto.Transparente. Menos populista. Com mais qualidade. Com mais macas. Com hospitais melhores, com mais equipamentos, e aos quais não faltem medicamentos. Um SUS melhor.

  "Briguei pelo filho ajoelhado do paciente. Por todos os meus pacientes. Por mim. Por você. Por nós. O SUS é nosso. Não tenho palavras para descrever o que penso da "presidenta" Dilma. (Uma figura que se proclama " a presidenta" já não merece minha atenção.) Mas hoje,por mim, por você, pelo meu paciente na cadeira, eu a ouvi.

  "A ouvi dizendo que escutou "o povo democrático brasileiro". Que escutou que queremos educação, saúde e segurança de qualidade. "Qualidade"... ela disse.

  "E disse que importará médicos para melhorar a saúde do Brasil.

  "Para melhorar a qualidade...?"

  "Senhora "presidenta", eu sou uma médica de qualidade. Meus pais são méddios de qualidade. Meus professores são médicos de qualidade. Mesus amigos de faculdade. Meus colegas de plantão. O médico brasileiro  é de qualidade.

  "Os seus hospitais é que não são. O seu SUS é que não tem  qualidade.O seu governo é que não tem qualidade.

 *  No dia em que a senhora " PRESIDENTA" abrir uma ficha numa UPA, for internada num Hospital Estadual, pegar um  remédio na fla do SUS e falar que isso é de qualidade, aí conversaremos.

  " Não cuspa na minha cara, não pise no meu diploma. Não me culpe pela sua incompetência.

"Somos quase 400 mil, não nos ofenda.Estou amanhã de plantão, abra uma ficha, eu te atendo. Não demora não. Não faltam médicos, mas não garanto que tenha onde  sentar. Afinal, a cadeira,é prioriodade dos internados.

 "  Hoje eu chorei de novo."

Fonte: O Globo,27/ 6 / 2013                             

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A JUSTIÇA EXISTE?

    Sim, a justiça existe  mas ela não é deste mundo.
    Quando pensamos em justiça logo nos vem em mente o campo do direito com seus advogados, promotores, juízes e desembargadores . Alguém com o mínimo de conhecimento sobre as leis sabe que Direito e Justiça pouco tem a ver um com o outro.
     Juízes não são os únicos a julgar, e até arriscaria a dizer que são os últimos a julgar, quando uma ocorrência chega as mãos do juíz  toda a gente envolvida ou não já julgou.
     Mas se a Justiça não é deste mundo, a vingança também não é ou, pelo menos, não deveria ser. " A vingança será sempre minha, diz o Senhor!"
   Não destino aqui a escrever sobre a justiça jurídica e seus códigos civis e penais.Não é  desta justiça que me refiro. Para tal,basta que procuremos um bom advogado.
   Em essência a justiça é harmonia, reparação e restauração do equilíbrio ,de nossas ações ou omissões, com as leis que regem a ética, o respeito a vida e ao outro, ao bem individual e coletivo , a honestidade e outros valores universais .
   Confundimos muito justiça com vingança, para os antigos gregos, estas eram duas irmãs.A vingança quer mais condenar do que julgar, quer  punir mais do que reparar, é exercida com impiedade,ressentimento, ira e ódio.A  justiça é misericordiosa, ela sabe que assim como quem acende uma vela é o primeiro a receber o calor da mesma e a intenção nela depositada,também quem comete um  delito,no fundo, já se condenou.
   A justiça neste mundo é uma compensação ao que foi perdido ou lesado, jamais nos dá de volta o que perdemos.Também serve para salvar a sociedade da barbárie punindo o errado para servir de exemplo que outros não façam o mesmo e, assim, mantenha o equilibrio na sociedade reprimindo a besta fera que mora dentro de nós.
   É fina a linha que separa o justo do vingativo.Se o susposto justo  no seu julgar coloca mais rigor do que o erro cometido pelo outro, ele já pisa no campo da vingança.A justiça como  virtude, e não como lei jurídica, é tão elevada  que mais do que punir o culpado se preocupa no resgaste do equilibrio e na reparação dos valores universais, independedente se é vítima ou agressor.A justiça como virtude está mais comprometida com os valores universais e sua reparação do que com quem cometeu ou não o erro, daí a sua misericordia e também a presença do sentimento e do coração porque a justiça não é fria, a lei pode ser fria e a vingança o  é com certeza.
   O hábito de julgar os outros é muito superfcial e incompleto porque julgamos, rapidamente, os atos do outros , o que reside atrás dos atos na grande maioria das vezes desconhecemos  e não levamos em consideração.
   Para os antigos gregos, a justiça tem a ver com a paz. A irmã da justiça, a vingança, obssessivamente quer fazer valer a lei e a ordem nem que seja com sangue e dor, a paz não importa para a vingança.

     Dra.Rosângela Ribeiro